Nada do que eu disse é genial
- Escrita Possível
- 25 de mai. de 2022
- 2 min de leitura
Pensei em escrever sobre a vivência dos sentimentos e não demorei a “teorizar o texto”, como diz Ana Holanda. Foi até bom, porque os sentimentos são muita coisa na vida da gente. Os meus são vividos do meu jeitinho: oito ou oitenta.
Por muito tempo, chamei isso de intensidade. Acreditava que pessoas que não se arrebatam em amor ou ódio por alguém, ou algo, eram mornas, fracas da alma e do coração. Vieram os 30 e meu olhar sobre a vida começou a mudar. Aos 41, após uma pandemia, imaginem...
Voltando à intensidade: transitei entre o apaixonamento e a fúria como se os sentimentos fossem duas grandes colinas e, o espaço entre elas, um grande vácuo. Como eu disse, a vida passa por nós. Às vezes como brisa perfumada, às vezes “às sapatadas”, disse Isabel Allende. Comecei a construir caminhos entre aquelas colinas quando cansei das sapatadas. Adoraria ficar na montanha da brisa perfumada para sempre. Infelizmente, não aconteceu. Entendi que dicotomia não é sinônimo de autenticidade e que a intensidade eterna cansa demais.
Pensando em como vivi grades emoções no passado, lembro de sentimentos bons, momentos incríveis. Mas lembro muito mais dos rios de choro, dos vários quilos a mais ou a menos, tapas na cara (acreditem), abusos, tristeza profunda, das que doem na carne. Por muito tempo, acreditei que a única alternativa a isso era a insignificância.
Descobrir os universos existentes entre minhas colinas de sentimentos é um enorme aprendizado. Entendi que parte da minha tristeza ou do meu cansaço pode ser acolhido embaixo das cobertas numa quarta à tarde. Outro tanto de raiva pode ser amansado com muitas respirações, vídeos engraçados e, só depois, uma conversa com o alvo da minha fúria. Se ainda for o caso. A irritação com o trabalho, que já foi tão despejada nos meus, pode virar um “não é com vocês. Só preciso ficar quieta”.
Nada do que eu disse é genial. Conheço crianças que levam a vida assim e acho elas incríveis. Eu não seria capaz disso aos 10 anos, idade que meu filho tem hoje. É aí que vejo a grande descoberta: o que os outros pensam que somos é assunto deles. Precisamos dar conta é de quem queremos ser.



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